Em julho comemorou-se a mulher negra latino-caribenha, mas aí você deve pensar, é o 8 de março?! Calma, vou te explicar, agora cabe a você decidir entender.
Talvez você não sabia, porque a partir de hoje ao finalizar esse texto você saberá, as questões relacionadas a trabalho, política, acesso e efetivação de direitos perpassam os conceitos de gênero e raça, porque tanto as mulheres negras quanto os homens negros estavam acostumadas ao trabalho desde o início da escravidão nas Américas, assim no universo feminino quando fazemos um recorte racial temos peculiaridade de lutas e conquistas, talvez assim você entenda do porque o dia 25 de Julho celebramos o dia da Mulher Negra.
No decorrer da história da humanidade, o trabalho é ponto da crucial da formação e atuação na vida das mulheres negras, contemporaneidade tem seu referencial na luta e conquista de direitos, o que exige de nós entendimento de que as conquistas feministas foram e são fundamentais para a emancipação da sociedade, entretanto parte desse universo feminino esteve à margem do processo de construção dessas lutas e mais ainda, atualmente estão longe de poder usufruir da grande maioria delas, além de empatia pela história luta dessas mulheres invisibilizadas pela história, permanecem meramente sobreviventes.
A autora norte-americana Ângela Davis em seu livro “Mulheres, raça e classe”, ressalta que o suposto conceito de fragilidade feminina e de rainha do lar, embora questionável e falho, se encaixava às experiências e realidade atribuídas às mulheres brancas e não às mulheres negras, uma vez que a história das mulheres negras se caracterizou pelo trabalho bruto, pesado antes e após a abolição. De amas e escravas dos brancos, tornaram-se geralmente, empregadas domésticas, serviçais a exercer qualquer outra função subalternada que lhes garantisse sua sobrevivência e de sua família.
Mulheres, raça e classe, segue criticando o movimento sufragista, por se embasar exclusivamente em um feminismo liberal e hegemônico. Nesse sentido, suas líderes como Susan B Anthony, na tentativa de adquirir o apoio de suas irmãs da classe trabalhadora, vão proferir o discurso de que as demais opressões podem ser toleradas ao passo que a de gênero não. Entretanto, segundo a autora, essas ideias não foram amplamente aceitas pelas trabalhadoras, que sabiam que o real inimigo era o patrão e sobretudo o sistema capitalista. Essas viam que o direito ao voto não resguardava seus companheiros da exploração burguesa. Desse modo, elas adentram tal luta, somente quando, passam a ver que por meio do voto, poderiam exigir melhores condições de trabalho. Por intermédio dessas, então, a campanha pelo sufrágio feminino passa a ter forte influência do movimento socialista.
Ainda mais, com a vitória do sufrágio em 1920, mulheres negras foram impedidas de votar tanto por violências diretas, a exemplo de ações da Ku Klux Klan, como também por conta da recusa de suas cédulas. Nesse âmbito, o movimento que antes havia lutado fervorosamente pelo direito das mulheres votarem, pouco se manifestou quando suas irmãs pretas foram impedidas de exercê-lo.
Somente em 6 de agosto de 1965, o presidente Lyndon Johnson, dos Estados Unidos, assinou a Lei dos Direitos de Voto (Voting Rights Act) que proibiu a discriminação racial no processo eleitoral, a lei que assegurou o direito de voto para os negros foi resultado do movimento dos direitos civis, movimento este iniciado por Rosa Parks, que de forma ousou, recusando-se a ceder seu assento no ônibus para um homem branco.
Com o objetivo de lembrar a luta e a resistência dessas mulheres contra racismo, o machismo, a violência, a discriminação e o preconceito dos quais elas ainda são vítimas, em busca de construir uma contramão a esse modo “comum” de vida, em 1992, mulheres negras de 32 países se reuniram na República Dominicana para dar visibilidade à luta contra opressão de gênero, exploração e racismo em terras latino-americanas. Desde então, a data representa o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha.
No Brasil, a data também é celebrada pelo Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. Tereza de Benguela foi um líder quilombola de destaque que resistiu à escravidão durante duas décadas no século XVIII, lutando pela comunidade negra e indígena que vivia sob sua liderança.
Agora você sabe.
Referência Bibliográfica:
https://ensinarhistoria.com.br/linha-do-tempo/negros-conquistam-o-direito-de-voto-estados-unidos/ – Blog: Ensinar História – Joelza Ester Domingues
https://www.geledes.org.br/resenha-a-visao-revolucionaria-de-angela-davis/
REVISTA DEBATES INSUBMISSOS, Caruaru, PE. Brasil, Ano 2, v.2, nº 7, set./dez. 2019. ISSN: 2595-2803. Endereço: https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/
https://www.cartacapital.com.br/diversidade/por-que-comemorar-o-dia-internacional-da-mulher-negra-latino-americana-e-caribenha/.
* Magie Vila Real é mãe, escritora, advogada, Presidente da Comissão de Igualdade Racial da 28° subseção da OAB/MG, pós-graduada em Ciências Políticas-Usp, Escrita Criativa e Autoria – UnB e Contos Como forma de Inspiração para Expressões Curativa e Criativa – UnB
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