Setembro Amarelo é uma campanha brasileira de prevenção ao suicídio, iniciada em 2015. O mês de setembro foi escolhido para a campanha porque, desde 2003, o dia 10 de setembro é o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio.
“Ninguém pode ser autenticamente humano enquanto impede que os outros o sejam.” Paulo Freire
Novembro é mês em que as pessoas se mobilizam para dar visibilidade às causas do movimento negro e à luta contra o racismo, um tipo de exclusão perversa que opera como ideologia de dominação e pressupõe que um grupo racial é superior a outro, excluindo pessoas e privando-as de oportunidades. Mas qual a relação entre racismo e saúde mental?
O racismo é fonte de grande sofrimento, já tendo sido objeto de análise pelo Conselho Federal de Psicologia, em sua resolução nº18/2002. Neusa Santos Sousa, importante intelectual brasileira registrou de forma incisiva a questão do racismo: “Eu sinto o problema racial como uma ferida. É uma coisa que penso e sinto todo tempo. É um negócio que não cicatriza nunca.”
Silvio Luiz de Almeida, autor do livro “O que é racismo estrutural?” argumenta que o racismo pode ser definido a partir de três concepções: 1) individualista, pela qual se apresenta como uma deficiência patológica, decorrente de preconceitos; 2) institucional, pela qual se conferem privilégios e desvantagens a determinados grupos em razão da raça, normalizando estes atos, por meio do poder e da dominação; e 3) estrutural que, diante do modo “normal” com que o racismo está presente nas relações sociais, políticas, jurídicas e econômicas, a responsabilização individual e institucional por atos racistas não extirpam a reprodução da desigualdade racial.
Em relação à saúde mental, os dados são alarmantes. A cada 10 jovens que se suicidam no Brasil, 6 são negros (Ministério da Saúde e UNB, 2016). Além da maior prevalência de transtornos mentais em indivíduos negros, múltiplas barreiras de acesso ao tratamento culminam com piores evoluções dos quadros clínicos.
A sensação opressora de não pertencimento, frequentemente citada por indivíduos segregados em nossa sociedade é sentimento relevante para a saúde mental, impactando em desequilíbrio nos diversos aspectos da pessoa. Estar saudável vai além de não ter doenças, mas sim um estado pleno de bem-estar biopsicossocial.
Racismo gera ansiedade, angústia e insegurança. Violência sistemática do Estado, com um número assustador de mortes na juventude, encarceramento em massa e exposição continua a situações constrangedoras desde a infância estão associados ao adoecimento psíquico dos indivíduos negros.
As formas de combater o racismo são complexas e múltiplas. O olhar da saúde mental para esta temática, a subjetividade da pessoa negra, está ainda começando a ter espaço. Teorias e contos, por exemplo, são sempre baseados na subjetividade do homem branco.
Um nome de destaque nesse campo é Frantz Fanon, Médico psiquiatra e filósofo nascido em Martinica, um influente pensador acerca da descolonização e da psicopatologia da colonização. Fanon, em sua obra seminal “Pele negra, máscaras brancas” aborda a questão do racismo de maneira magistral, discutindo como a opressão e violência sistemática e cotidiana dos processos colonizadores afetam os indivíduos negros.
A vinculação dentro das comunidades e o incentivo para que se criem e fortaleçam uma rede de apoio com pessoas negras é fundamental para aumentar o sentimento de pertencimento.
Olhar para a ancestralidade do indivíduo permite o resgate de quem a pessoa é, de onde vem, como a família lida com a questão para assumir a identidade e enfrentar os desafios que a pessoa encontra.
Agora você sabe.
Referência Bibliográfica:
Impacto do racismo na saúde mental (geledes.org.br)
* Magie Vila Real é mãe, escritora, advogada, Presidente da Comissão de Igualdade Racial da 28° subseção da OAB/MG, pós-graduada em Ciências Políticas-Usp, Escrita Criativa e Autoria – UnB e Contos Como forma de Inspiração para Expressões Curativa e Criativa – UnB
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